06 Abr 2014 - APA dos Recifes de Corais, hospedados na Casa do Pesquisador do IDEMA (
http://www.idema.rn.gov.br/), e de posse de licença para coleta nos badaladíssimos Parrachos de Maracajaú. Tudo certo graças à providencial ajuda da Técnica (Bióloga) do IDEMA, Ana Luisa Pires Moreira. Ou quase tudo ... faltava acertar o mergulho, que para nós deveria ser distinto da "pirataria" que reina no local, onde com um cilindro de ar-comprimido mergulham 4-5 turistas sequencialmente, cada qual desembolsando R$100. Moral da história: mesmo pagando R$100 pelo aluguel de um cilindro com colete equilibrador e regulador, ainda tínhamos que escutar que estávamos gerando um tremendo passivo na forma de custo de oportunidade. No segundo dia de mergulho, 08 Abr, o pacote saiu por R$150. SINISTRO!
Mas, agruras à parte, o lugar é estonteante de tão belo, e nossa tripulação, Srs. Rizadinha, Albertino e Agamenon, os dois últimos por vezes confundidos com Abelardo e Armagedon, tornaram nossa experiência ainda mais prazerosa. Não bastasse conduzirem a embarcação, amarrá-la à bóia, e auxiliar-nos com a equipação para o mergulho, ainda mergulharam junto procurando esponjas conosco. Em tempo, o Sr. Rizadinha é um dos pioneiros no transporte de turistas aos parrachos.
A seguir, trecho do decreto de criação da APA:
"Decreto nº 15.746, de 6 de junho de 2001.
Cria a Área de Proteção Ambiental - APA
dos Recifes de Corais nos Municípios de
Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, e
dá outras providências.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE no uso de suas atribuições
constitucionais, e tendo em vista o que consta dos arts. 18, “caput”, 19, VI, e 20, VII, e VIII, da
Constituição Estadual,
D E C R E T A:
Art. 1.º Fica declarada Área de Proteção Ambiental a região marinha que abrange a faixa costeira
dos Municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, com a delimitação geográfica constante
do art. 3° deste Decreto.
Parágrafo único. A declaração objeto deste artigo tem como finalidade:
I - proteger a biodiversidade e a vida marinha presentes na área com ocorrência de recifes de corais
e suas adjacências;
II - controlar e normatizar as práticas do ecoturismo comercial, do mergulho e da pesca local;
II - desenvolver na comunidade local, nos empreendedores e nos visitantes uma consciência
ecológica e conservacionista sobre o patrimônio natural e os recursos ambientais marinhos;
IV - incentivar a utilização de equipamentos de pesca artesanal ecologicamente corretos;
V - incentivar a realização de pesquisas para a identificação e o comportamento dos organismos
marinhos visando propiciar um maior conhecimento do ecossistema."
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Nosso transporte aos Parrachos, distantes 6-7 km da costa. |
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Equipe EXPO-CERN completa, além do comandante Rizadinha e seu filho Albertino. Da esquerda para a direita, sentados, Sula, André e Camille. De pé, Albertino, Sr. Rizadinha, Eduardo, Mariana e Báslavi. |
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Fugindo-se um pouco do meio do salão das "Jangalanchas" (jangadas com motores de pôpa), era possível deparar-se com corais de fogo como este. Estes corais, do gênero Millepora, estão dentre os de crescimento mais rápido no Brasil. As jangalanchas ficam amarradas em bóias provativas poitadas no fundo das piscinas, o que minimiza o impacto das idas e vindas diárias. Os turistas fazem sua apnéia desprovidos de nadadeiras e instruidos a não pisar nos recifes, o quê, infelizmente, é frequentemente desrespeitado. Por isso, os corais mais desenvolvidos só se vêem afastados do "buchicho" que se cria na área de atração de peixes com miolo de pão. |
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Uma possível Oscarella (Classe Homoscleromorpha), coletada pela Sula, que foi só quem encontrou abundância de rochas para virar. Nos locais em que nadei, para virar qualquer coisa, só depois de muita marretada ... |
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Uma linda Placospongia (MNRJ 17991), também coletada pela Sula. Eis um gênero que continua desafiando os espongiólogos brasileiros. Para os novatos, uma curiosidade: Placospongia tem grande capacidade de contração, podendo retrair-se de tal forma que estas placas em sua superfície se acoplam totalmente, fechando por completo as fendas porais e ósculos da esponja. |
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Sula trabalhando, em foto de Mariana. Assim como meu gorro vermelho, o short fosforecente de Sula auxiliava em seu reconhecimento subaquático pelos membros da equipe. |
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Uma imponente Ircinia felix com quase 30 cm de altura, aliás a única espécie que observei desenvolvendo-se de tal forma nos parrachos. Este indivíduo cresce há poucos metros da proa do barco Rizadinha, quando amarrado a sua poita. Vale uma ressalva. Ircinia se caracteriza pela posse de um esqueleto secundário de filamentos de espongina enovelados, que em associação ao esqueleto primário de fibras robustas de espongina (frequentemente ainda reforçadas por inclusão de sedimento), lhe confere uma grande resistência à tensão. Desta forma, enquanto outras esponjas padeceriam sob a primeira pisada, Ircinia consegue aguentar alguns maltratos e seguir "feliz da vida". |
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O Sr. Rizadinha demonstrando que até apanhar peixe com a mão é possível em meio ao frenesi gerado pela alimentação com miolo de pão, especialmente quando se é um dos primeiros a chegar aos parrachos pela manhã. |
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Intervalo entre o mergulho nos parrachos e a continuação das coletas, que se daria junto ao farol localizado mais próximo da costa. Hora de beliscar alguma coisa e, confesso, em não estando chuvendo como havia sido a regra até agora, tomar uma cervejinha para "aclarar as idéias". |
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Já que Sula e Mariana não queriam largar o osso do 1º mergulho, fomos adiantando as coisas a bordo para agilizar o 2º. Aqui, troca do cilindro. Apesar dos R$100 pagos por cilindro, ainda tivemos de nos contentar com algumas cargas de 100-150 BAR. Decididamente, da próxima vez passaremos antes em Natal para pedir ao Prof. Jorge Lins (DOL/UFRN) a gentileza de nos emprestar alguns cilindros para a viagem. |
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Segundo seu Rizadinha, nos dias de maior movimento são 880 turistas nos parrachos. Dá para crer? Cada jangalancha só tem autorização para transportar 10 passageiros/dia, em um sistema de cotas compartilhadas entre pequenos (ex)pescadores e grandes empreendedores associados a empresas tais como a CVC. Por sorte, os bancos de corais se extendem por uma imensa área, com dezenas de kilômetros ao Sul e ao Norte dos parrachos, em sua maioria inexplorada pelas hostes de turistas. |
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Localidade de nosso segundo mergulho no dia, agora sim, um lugar coalhado de esponjas. Infelizmente, também de ouriços, de modo que o mergulho aí tem um pouco de traiçoeiro, especialmente nas partes mais rasas. |
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Nossas coordenadas (e as pernas de alguém ...). |
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Encontramos aí algumas esponjas perfurantes diferentes das que já conhecíamos. Pena que isso só se deu após defendida a dissertação de Camille sobre o tema, na véspera de embarcarmos na EXPO-CERN. Por razões as mais diversas, não tivemos oportunidade de empreender uma excursão para coleta com foco em esponjas perfurantes no deecorrer da dissertação dela, que ficou centrada nos materiais disponíveis na coleção MNRJ e UFRJPOR, acrescida de coletas isolads fortúitas por colegas. Mesmo assim, às sete esponjas perfurantes já registradas para o país, uniram-se outras seis. E esta foto sugere que a coisa não vai parar por aí. |
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Havia grande quantidade de rodolitos nesta localidade, frequantemente recobertos em maior ou menor grau por poríferos. Devemos ter coletado uns 30-40 rodolitos com incrustações abrangendo praticamente todas as cores do arco-iris, e estamos otimistas que muitass novidades surgirão de seu estudo. |
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De volta à praia, mais chuva. |
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Talvez de gosto duvidoso, mas alguns dos rodolitos encontrados eram verdadeiras obras de arte.Que tal este? |
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