domingo, 13 de abril de 2014

2a Expedição do PNPD - EXpedição POríferos do CE e RN (EXPO-CERN): Batente das Agulhas (RN)

07 Abr 2014 - A idéia era sair às 05:00h, portanto despertador às 04:30h. Assim começou esse longo dia. Todos na Kombi com um certo atraso, é claro, e cerca de 90min de viagem à Natal, onde acabamos chegando depois das 07:00h. O encontro fora marcado no Iate Clube de Natal, do qual me lembrei da época dos embarques para o Atol das Rocas, em 2002 e 2003. Aí já nos aguardavam o pessoal da Natal Divers (http://www.nataldivers.com.br/), sob a batuta de Flávio Marcato, mergulhador 200 estrelas, que muito nos ajudara na tentativa de viabilizar outros mergulhos ao longo da EXPO-CERN. Além de nós, mais uma turminha, incluindo um argentino, que iriam curtir o badalado Batente das Agulhas. O Dramin já circulava em minhas veias desde a véspera, de modo que o sono era implacável. Aproveitei o espaço na embarcação para dar aquela esticada, deixando o resto da turma curtindo seu papo animado. Haja papo para 2h de navegação!

Depois do "briefing" (planejamento do mergulho) pelo Divemaster, eu passei minhas instruções à equipe. Boa parte da turma era BEM inexperiente, e foi muito conveniente ter um Divemaster conosco na água fazendo a supervisão do mergulho de todos. Se sobrasse para mim este papel, eu não coletaria nada. Como a instrução passada pelo Divemaster era que o 1º a chegar na reserva determinava o momento da subida de todo o grupo, eu complementei que queria todos mergulhando acima de mim. Pergunta se alguém deu ouvidos! Motim geral! Eu com 110 BAR tive que iniciar a subida ... Tudo bem que o lugar era de tirar o fôlego, mas não se precisava levar a expressão tão ao pé da letra!!

Com relação às esponjas, talvez seja prematuro emitir um laudo. A primeira impressão foi que esponjas abundam, porém não são tão diversas. Dizem os alunos que havia um sem número de esponjas pequenas, e o fato é que com dois mergulhos de 45min cada, pelo menos para mim, não houve tempo de esmiuçar o inventário. Isso dependeria não somente de buscar esponjas pequenas expostas ou em cavidades, mas também, muito importante, virar rochas de menores dimensões. Assim, as portas estão abertas para quem tiver oportunidade de voltar à Natal para uma série de mergulhos no local. Vale lembrar que os dois mergulhos saíram a R$350 por pesquisador, portanto não vá de bolso vazio.

Mais informação sobre o Batente:

https://www.youtube.com/watch?v=CQ0bmx-n6f8
http://jornaldehoje.com.br/exclusivo-equipe-do-portal-jh-mergulha-fundo-e-desvenda-os-encantos-do-batente-das-agulhas/
http://nataldivers.com.br/verNoticia.php?id=7
http://vimeo.com/36257364



Equipe excitada com o super mergulho que faríamos. Equipamento completo para todos, e o tempo aparentando estar bom.


Faltando 10min para a chegada ao point, hora de todos se equiparem. Era o tempo do Divemaster fazer a amarração da embarcação, e retornar para nos buscar. Em primeiro plano, Báslavi, seguida de André, Sula e Camille, e ao fundo, Flávio Marcato.

A descida não era exatamente uma descida ... o cabo estava praticamente na horizontal, e nos tomava muito tempo baixar. O esquema é montado para facilitar a equalização da turma "mais entupida", mas acaba nos surrupiando uns 2min de fundo. Fazer o quê?

Já no fundo, eis a marca registrada do local: Aplysina cf. fistularis. O fato é que a variabilidade morfológica em Aplysina é tal no Batente, que justificaria um estudo detalhado. Variam a altura e o diâmetro dos tubos, seu nível de fusionamento, e sua superfície (com cavidades ascentuadas neste caso). Coletamos apenas um espécime para bioprospecção. O ideal teria sido coletar ao menos uma dezena, buscando os extremos da variação para ver se há diferença em seus cromatogramas (perfis químicos).

Profundidade máxima que alcançamos no 1º mergulho: 20,9m. 

MNRJ 18265, uma Ectyoplasia ferox coletada para bioprospecção. 

MNRJ 18268, uma provável Plakortis, também coletada para bioprospecção.

Parte de nossa platéia tinha esse biotipo serpentiforme. As duas moréias que vi, aparentemente da espécie Gymnothorax funebris, pareciam gêmeas, como se verá mais abaixo. 

Outro espécime de Aplysina cf. fistularis, agora com diversos tubos bastante fusionados, além de possuir tubos com cavidades na superfície e outros quase lisos, lado a lado. Não havia para onde olhar que não se vissem enormes Aplysina.

A beleza das Monanchora (esponja vermelha ou vermelha com canais brancos) compensa um pouco a falta dos alcionáceos, tão emblemáticos no Indo-Pacífico. Camille gastou boa parte de seu ar catando estes bichos, já se antecipando às coletas que serão necessárias para o desenvolvimento de seu projeto de doutoramento, no âmbito do Programa de Ciências do Mar (CAPES) - Projeto MBQMar.

Ainda mais que acima, esta moréia deve adorar uma casa decorada com inúmeras esponjas nas paredes. Será que ela permitiria que se "roubasse" alguma "obra de arte" de sua coleção?

Não vai adiantar fazer apostas, pois o espécime não foi coletado. Mas, será que dá para chamar isso também de Aplysina cf. fistularis?

Esponjas: TREMEI! Eis aí seu predador! O redondo aí da foto é o fofoleti do Pomacanthus paru, o peixe-frade-francês, um conhecido apreciador de esponjas em sua dieta. Além dele, havia também o peixe-frade-Real, Holacanthus ciliaris, e o "Piu-piu do Frajola", o tricolor, Holacanthus tricolor. Com a quantidade de esponjas que lá havia, esta turma nunca vai passar fome!

Se Camille foi nossa musa embarcada, Sula certamente mereceu o posto de sereia com seu desempenho nas fotos subaquáticas, para as quais ela se preparava até com brincos! Trocando de asssunto: dá para chamar essa esponja de Aplysina cf. fistularis também? Pelas diagnoses de Pinheiro et al. (2007, Zootaxa 1609), é isso aí! Infelizmente ainda não se encontrou bons marcadores moleculares para as esponjas deste gênero, ou então não estamos querendo ver a verdade debaixo de nossos narizes: SÃO POUQUÍSSIMAS ESPÉCIES, E MUITO VARIÁVEIS MORFOLOGICAMENTE.

Ficamos com Aplysina pseudolacunosa ou A. muricyana? Lembrando que, qualquer destes "dedos" analisado separadamente do resto da esponja provavelmente induziria o identificador a chamá-la de A. cauliformis ou A. fulva. Durma-se com um barulho desses ...

Um belo cardume de piranjicas pairava sobre o topo do Batente, onde também se viam abundantes Aplysina.  Esse é o lugar para fazer o ar do cilindro SCUBA render o máximo!

Os muitos túneis presentes no Batente realmente tornam o lugar muito especial. Imagino que seriam necessários uns 20-30 mergulhos para finalmente chegarmos a um conhecimento mais pormenorizado das esponjas do lugar. Algum estudante interessado em encarar essa sequência de mergulhos? Mas tem que ter o olho treinado para achar esponjas crípticas, ou vai deixar passar 70% da fauna.

Nossa primeira Verongula gigantea, a gente nunca esquece! Só conhecia a espécie das dragagens do Projeto REVIZEE, e das fotos do Fernando Moraes na Ilha da Trindade.





Eu não havia mencionado, mas tanto na ida como na volta fui acordado por chuva em alto mar. Na volta, a missão já estava cumprida mesmo. Quem se importava? O único senão era a lembrança de que o banho em Maracajaú seria frio para todos, pois na Casa do Pesquisador não havia chuveiros elétricos funcionais.

Na volta ao Iate Clube, tempo bom de novo. Esse foi um super dia! Obrigado Flávio, Nilda e Ítalo, "staff" da Natal Divers! Foto M.S. Carvalho.

Como se não bastasse despertar às 04:30h e a faina em alto-mar, ocorreu-nos ser mais prático já deixar ao menos parte das esponjas coletadas, no Laboratório da Profa. Renata Mendonça Araujo, do Instituto de Química/UFRN, nosso contato em Natal para o tema da bioprospecção. A ideia original era que ela fosse à Maracajaú buscar as esponjas conosco, pois não sabíamos que iríamos fazer nossa última coleta de grandes proporções, justamente em Natal. Não se tratava apenas de entregar as esponjas, pois estava tudo soterrado sob gelo, misturado com o material coletado para taxonomia, e uma ou outra amostra para nosso colega paulista, o químico Prof. Roberto Berlinck. Precisávamos nos certificar que as etiquetas com códigos MNRJ estavam legíveis, sub-amostrar nosso espécime testemunho (voucher), e triar os epi- e endobiontes, para evitar contaminação das amostras. Foto M.S. Carvalho.

Parte do trabalho efetuado no laboratório da Profa. Renata consistiu na limpeza das amostras destinadas à bioprospecção. Nesta foto nota-se nitidamente uma esponja incrustante vermelha, provavelmente Monanchora, crescendo sobre Topsentia ophiraphidites. As Monanchora, surpreendentemente, eram todas incrustantes. Já a Topsentia era sempre maciça, muito frequente, e cheia de epibioses.  Foto M.S. Carvalho.



sexta-feira, 11 de abril de 2014

2a Expedição do PNPD - EXpedição POríferos do CE e RN (EXPO-CERN): Maracajaú (RN)

06 Abr 2014 - APA dos Recifes de Corais, hospedados na Casa do Pesquisador do IDEMA (http://www.idema.rn.gov.br/), e de posse de licença para coleta nos badaladíssimos Parrachos de Maracajaú. Tudo certo graças à providencial ajuda da Técnica (Bióloga) do IDEMA, Ana Luisa Pires Moreira. Ou quase tudo ... faltava acertar o mergulho, que para nós deveria ser distinto da "pirataria" que reina no local, onde com um cilindro de ar-comprimido mergulham 4-5 turistas sequencialmente, cada qual desembolsando R$100. Moral da história: mesmo pagando R$100 pelo aluguel de um cilindro com colete equilibrador e regulador, ainda tínhamos que escutar que estávamos gerando um tremendo passivo na forma de custo de oportunidade. No segundo dia de mergulho, 08 Abr, o pacote saiu por R$150. SINISTRO! 

Mas, agruras à parte, o lugar é estonteante de tão belo, e nossa tripulação, Srs. Rizadinha, Albertino e Agamenon, os dois últimos por vezes confundidos com Abelardo e Armagedon, tornaram nossa experiência ainda mais prazerosa. Não bastasse conduzirem a embarcação, amarrá-la à bóia, e auxiliar-nos com a equipação para o mergulho, ainda mergulharam junto procurando esponjas conosco. Em tempo, o Sr. Rizadinha é um dos pioneiros no transporte de turistas aos parrachos. 

A seguir, trecho do decreto de criação da APA:

"Decreto nº 15.746, de 6 de junho de 2001. 

Cria a Área de Proteção Ambiental - APA 
dos Recifes de Corais nos Municípios de 
Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, e 
dá outras providências. 

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE no uso de suas atribuições 
constitucionais, e tendo em vista o que consta dos  arts. 18, “caput”, 19, VI, e 20, VII, e VIII, da 
Constituição Estadual, 

D E C R E T A: 
Art. 1.º Fica declarada Área de Proteção Ambiental a região marinha que abrange a faixa costeira 
dos Municípios de Maxaranguape, Rio do Fogo e Touros, com a delimitação geográfica constante 
do art. 3° deste Decreto. 

Parágrafo único. A declaração objeto deste artigo tem como finalidade: 

I - proteger a biodiversidade e a vida marinha presentes na área com ocorrência de recifes de corais 
e suas adjacências; 
II - controlar e normatizar as práticas do ecoturismo comercial, do mergulho e da pesca local; 
II - desenvolver na comunidade local, nos empreendedores e nos visitantes uma consciência 
ecológica e conservacionista sobre o patrimônio natural e os recursos ambientais marinhos; 
IV - incentivar a utilização de equipamentos de pesca artesanal ecologicamente corretos; 
V - incentivar a realização de pesquisas para a identificação e o comportamento dos organismos 
marinhos visando propiciar um maior conhecimento do ecossistema."


Nosso transporte aos Parrachos, distantes 6-7 km da costa.

Equipe EXPO-CERN completa, além do comandante Rizadinha e seu filho Albertino. Da esquerda para a direita, sentados, Sula, André e Camille. De pé, Albertino, Sr. Rizadinha, Eduardo, Mariana e Báslavi.

Fugindo-se um pouco do meio do salão das "Jangalanchas" (jangadas com motores de pôpa), era possível deparar-se com corais de fogo como este. Estes corais, do gênero Millepora, estão dentre os de crescimento mais rápido no Brasil. As jangalanchas ficam amarradas em bóias provativas poitadas no fundo das piscinas, o que minimiza o impacto das idas e vindas diárias. Os turistas fazem sua apnéia desprovidos de nadadeiras e instruidos a não pisar nos recifes, o quê, infelizmente, é frequentemente desrespeitado. Por isso, os corais mais desenvolvidos só se vêem afastados do "buchicho" que se cria na área de atração de peixes com miolo de pão.

Uma possível Oscarella (Classe Homoscleromorpha), coletada pela Sula, que foi só quem encontrou abundância de rochas para virar. Nos locais em que nadei, para virar qualquer coisa, só depois de muita marretada ...

Uma linda Placospongia (MNRJ 17991), também coletada pela Sula. Eis um gênero que continua desafiando os espongiólogos brasileiros. Para os novatos, uma curiosidade: Placospongia tem grande capacidade de contração, podendo retrair-se de tal forma que estas placas em sua superfície se acoplam totalmente, fechando por completo as fendas porais e ósculos da esponja.

Sula trabalhando, em foto de Mariana. Assim como meu gorro vermelho, o short fosforecente de Sula auxiliava em seu reconhecimento subaquático pelos membros da equipe.

Uma imponente Ircinia felix com quase 30 cm de altura, aliás a única espécie que observei desenvolvendo-se de tal forma nos parrachos. Este indivíduo cresce há poucos metros da proa do barco Rizadinha, quando amarrado a sua poita. Vale uma ressalva. Ircinia se caracteriza pela posse de um esqueleto secundário de filamentos de espongina enovelados, que em associação ao esqueleto primário de fibras robustas de espongina (frequentemente ainda reforçadas por inclusão de sedimento), lhe confere uma grande resistência à tensão. Desta forma, enquanto outras esponjas padeceriam sob a primeira pisada, Ircinia consegue aguentar alguns maltratos e seguir "feliz da vida".

O Sr. Rizadinha demonstrando que até apanhar peixe com a mão é possível em meio ao frenesi gerado pela alimentação com miolo de pão, especialmente quando se é um dos primeiros a chegar aos parrachos pela manhã.

Intervalo entre o mergulho nos parrachos e a continuação das coletas, que se daria junto ao farol localizado mais próximo da costa. Hora de beliscar alguma coisa e, confesso, em não estando chuvendo como havia sido a regra até agora, tomar uma cervejinha para "aclarar as idéias".

Já que Sula e Mariana não queriam largar o osso do 1º mergulho, fomos adiantando as coisas a bordo para agilizar o 2º. Aqui, troca do cilindro. Apesar dos R$100 pagos por cilindro, ainda tivemos de nos contentar com algumas cargas de 100-150 BAR. Decididamente, da próxima vez passaremos antes em Natal para pedir ao Prof. Jorge Lins (DOL/UFRN) a gentileza de nos emprestar alguns cilindros para a viagem.

Segundo seu Rizadinha, nos dias de maior movimento são 880 turistas nos parrachos. Dá para crer? Cada jangalancha só tem autorização para transportar 10 passageiros/dia, em um sistema de cotas compartilhadas entre pequenos (ex)pescadores e grandes empreendedores associados a empresas tais como a CVC. Por sorte, os bancos de corais se extendem por uma imensa área, com dezenas de kilômetros ao Sul e ao Norte dos parrachos, em sua maioria inexplorada pelas hostes de turistas.

Localidade de nosso segundo mergulho no dia, agora sim, um lugar coalhado de esponjas. Infelizmente, também de ouriços, de modo que o mergulho aí tem um pouco de traiçoeiro, especialmente nas partes mais rasas.


Nossas coordenadas (e as pernas de alguém ...).

Encontramos aí algumas esponjas perfurantes diferentes das que já conhecíamos. Pena que isso só se deu após defendida a dissertação de Camille sobre o tema, na véspera de embarcarmos na EXPO-CERN. Por razões as mais diversas, não tivemos oportunidade de empreender uma excursão para coleta com foco em esponjas perfurantes no deecorrer da dissertação dela, que ficou centrada nos materiais disponíveis na coleção MNRJ e UFRJPOR, acrescida de coletas isolads fortúitas por colegas. Mesmo assim, às sete esponjas perfurantes já registradas para o país, uniram-se outras seis. E esta foto sugere que a coisa não vai parar por aí.


Havia grande quantidade de rodolitos nesta localidade, frequantemente recobertos em maior ou menor grau por poríferos. Devemos ter coletado uns 30-40 rodolitos com incrustações abrangendo praticamente todas as cores do arco-iris, e estamos otimistas que muitass novidades surgirão de seu estudo.

De volta à praia, mais chuva.

Talvez de gosto duvidoso, mas alguns dos rodolitos encontrados eram verdadeiras obras de arte.Que tal este?



quarta-feira, 9 de abril de 2014

2a Expedição do PNPD - EXpedição POríferos do CE e RN (EXPO-CERN): Guamaré (RN)

04 Abr 2014 - Que trabalheira do Inferno foi programar essa visita à Guamaré! Foram dias de negociações com a Miami Pesca Oceânica e Natal Divers (ambas de Natal), muito solícitas, mas não deu. A 1a tinha o barco e a 2a a infraestrutura de mergulho. Porém, o somatório de custos de ambas era impraticável. Tampouco conseguiram nos oferecer contatos locais que pudéssemos usar para montar nosssa operação de mergulho em Guamaré. Vale citar aqui o porquê de nossa vontade de amostrar este local. Em 2008, o Prof. Guilherme Muricy (Museu Nacional/UFRJ) publicou um livro em colaboração com outros pesquisadores, tratando da taxonomia das esponjas da Bacia Potiguar (compreende parte dos litorais do CE e RN), e vários de seus pontos de amostragem estavam nas imdiações desta cidade. Em especial, queríamos, e acabamos não conseguindo, visitar a Risca das Bicudas, em busca de Leucetta floridana (Calcarea) para o trabalho de doutoramento de Báslavi. Outro aspecto importante é que sabíamos que a partir daí estaríamos amostrando em um área de reserva, a APA dos Recifes de Coral, em Maracajaú (RN), onde não tínhamos licença para bioprospectar. Desta forma, Guamaré aparecia como a última oportunidade de viabilizar uma coleta em larga escala para estudos químico-farmacológicos. Posteriormente, acabamos conseguindo realizar tal coleta em Natal mesmo, motivada em parte pelo insucesso da coleta em Gamaré. Não resta dúvidass entretando que Guamaré é uma exceleente via de acesso a ricos fudos de esponjas, sendo necessário apenas planejar tudo com bastante antecedência. O Prof. Jorge Lins (DOL/UFRN) havía-nos ofertado equipamento de mergulho, que podeerão ser de grande valia em uma próxima oportunidade, quando estivemos partindo de Natal. Vindos de Fortaleza, como era nosso caso, seria extremamente cotramão buscar os equpamentos em Natal. Já havíamos rodado uns 600 km em nossa carroça, e qualquer adição a este número seria uma tortura insuportável. Mas o importate é que restam muito poucas pontas sem nós para que possamos organizar nova expedição, ainda mais proveitosa que esta 1a EXPO-CERN.

O mapa abaixo ilustra o roteiro da expedição, parte do qual ainda se relatará nas próximas postagens do blog. Iniciamos por Fortaleza, onde alugamos a Kombi e nos abastecemos de algumas coisas que não havíamos despachado ou trazido do Rio. Por exemplo: etanol. Daí para Mundaú, de onde acesssamos também a praia de Flecheiras. Nos mudamos então para Taiba, onde amostramos o Porto do Pecém e recifes costeiros próximos às "famosas" grutas da cidade. Voltamos então brevemente à Fortaleza em 03 Abr para devolver o equipamento de mergulho que o Prof. Tito Lotufo gentilmente nos emprestara para o mergulho no Porto do Pecém, e que viajava conosco desdde o dia 28. No mesmo dia seguimos para Guamaré na mais larga travessia de carroça de nossa expedição, com direito a errar o caminho em mais de 100 km, chegando ao nosso destino por volta das 22:00h para ajeitar tudo para o importante mergulho do dia seguinte, sobre o qual já acertáramos um "briefing" com o Sr. Mário "de Lucila" para as 06:00h de 04 Abr. Em 05 Abr seguimos para Maracajaú, onde mergulhamos em 06 e 08 Abr. Dia 07 partimos para Natal às 05:00h para mergulhar no Batente das Agulhas, sem sombra de dúvidas a "cereja de nosso pudim". Que lugar foi aquele?! Resolvemos que merecíamos uma noite em um hotel de verdade, e no próprio dia 08 Abr partimos da Casa do Pesquisador, gentilmente cedida pelo IDEMA/RN, para um hotel que acabáramos de reservar em Natal.

Vista do porto de Guamaré, com a lancha que utilizaríamos para os mergulhos, bem no centro da imagem.

Para a turma que gosta de exibir uma corzinha, no caso Camille e Sula, a proa da lancha era o lugar ideal.

O Sr. Mario "de Lucila" (http://mariodelucila.blogspot.com.br/) conduziu a lancha que nos levou à Urca do Minhoto, plataforma desativada PAG3, e por fim aos pilares do Porto de Guamaré. Atrás dele, André e o marinheiro Gaspar. Mario trabalhou como mergulhador e supervisor de mergulho por 21 anos. Atualmente dedica-se à política, ao turismo e às causas conservacionistas. Procurem por ele também noYouTube.

Apesar da pinta, o "velho lobo do mar" só foi mergulhar nos pilares do porto. Enquanto a lancha balançou não houve jeito de contornar o enjôo. Acabei ficando de fora da Urca do Minhoto e da plataforma desativada, o que certamente contribuiu para o resultado pífio em termos de amostras coletadas.

Recém eleita Musa EXPO-CERN, Camille vestiu literalmente a camisa TAXPO, e aqui mostra que apesar dos grandes esforços para alcançar os locais de coleta, por vezes mais carregados que uma mula (nossa Kombi Carroça que o diga!!), sempre sobra um tempinho para contemplar a beleza do trabalho de um biólogo, frequentemente tão mal compreendido.

O Sr. Mário "de Lucila" não quiz deixar a expedição passar em branco, e pediu ajuda à Báslavi para registrar alguns momentos de nossa faina para divulgação no YouTube. Espero que nos avise ...

A lancha era relativamente pequena, mas muito bem motorizada e comportou tranquilamente a nós, tripulação, isoporzão e compressor de mergulho. Não teríamos cilindros de mergulho nesta localidade, mas o Mario havia posto seu compressor em ordem para que pudéssemos mergulhar. Afinal, não somos como ele que faz caça aos 18-20 m de profundidade no fôlego. Aqui a lancha já pairava sobre a Urca do Minhoto, um afloramento rochoso (recife?) ditante cerca de 30 km da costa, onde, segundo ele, quando o mar está realmente alto, há quem queira alcançar para surfar.

Ircinia strobilina, uma das poucas esponjas coletadas na Urca do Minhoto. O compresor serviu à Baslavi que teria mergulhado comigo, mas acabou fazendo dupla com o Mario, após as avarias em meu sistema de equilíbrio.

Outra esponja: Amphimedon sp., também coletada por Báslavi, que infelizmente não encontrou suas desejadas Leucetta floridana. Que pena: teremos que voltar para procurar mais ... ;-)

Não se obteve nenhuma esponja neste local. Seguramente porque o mar se movia muito e a grande quantidade de ostras e cracas na estrutura da plataforma PAG3 não permitia aproximação isenta de riscos. Báslavi que o diga ... cortou-se feio no local, infelizmente.

Finalmente, o Porto de Guamaré. A profundidade não passava de 3-4 m, mas o uso do compressor foi crucial para mapear detalhadamente o fundo do local. As esponjas ocorriam entremeadas entre sí, e a outros organismos, os maiss diversos, resultando muito difícil coletá-las limpas para estudos bioprospectivos. Nesta foto, Haliclona manglaris - raminhos verdes. Percebe-se também a grande quantidade de sedimento fino. Interessantemete, a turma que ficou na apnéia acabou encontrando algumas esponjas que não se via no fundo. Algumas delas, fora d'água.

Uma possível Haliclona implexiformis coletada pelo André.

Possivelmente Dysidea etheria (azul arroxeada) e Haliclona manglaris (verde amarelada).

Eis um companheiro que deu as caras em algumas oportunidades nesta expedição. Aqui em Guamaré este polvo havia cavado um tunel com uns 50-60 cm de profundidade no sedimento para esconder-se, porém a curiosidade com os acontecimentos ao seu redor o mantinham na boca do buraco.

Por fim, decarregar a lancha, carregar a Kombi, achar um lugar para almoçar antes que anoitecesse, voltar para a pousada e preparar tudo para a viagem à Maracajaú no dia seguinte. Mais uma etapa cumprida. Atrás de André e do marinheiro Gaspar, o compressor que utilizamos nos mergulhos.