Minha amiga Mônica era carioca como eu. Aliás, nunca conseguiu sequer disfarçar essa origem, mesmo após décadas de imersão em terras, e mais que tudo, águas alagoanas. Ela graduou-se pela Universidade Santa Úrsula, à época com uma boa formação em Biologia Marinha. E no caso de Mônica, complementada através de seu estágio no Departamento de Biologia Marinha da UFRJ. Foi nessa época que nos conhecemos. A década do Rock Nacional. Anos 80, muito som nas caixas, e muito trabalho nos laboratórios, onde começávamos a nos profissionalizar. Mas a Terra não para. Mônica seguiu seu rumo, entre Rio de Janeiro, Curitiba e finalmente Maceió. Eu o meu, entre São Paulo, Amsterdam, São Paulo de novo, e finalmente Rio de Janeiro.
Agora, já trocara a década, e Mônica se convertera em uma "sacoleira". E não agia sozinha! Já fazia tempo que tinha na cumplicidade de sua amiga Hilda, a certeza de que caminhavam na direção certa. A cada tantos meses, aparecia a dupla em meu laboratório, portando uma sacola cheia de amostras de poríferos dos recifes costeiros de Maceió. Foi quando nomes como Ponta Verde, Jatiuca e Piscina dos Amores começaram a retumbar em minha cabeça. Eu já havia estado em Maceió como turista, mas agora era o cientista que cutucavam com vara curta. Costurava-se aí uma colaboração que varou os anos 1990 e 2000, e teria seguramente varado as décadas de 2010 e 2020, não fosse o falecimento precoce de minha amiga, que nos deixou a todos sem chão, sem corrimão, estarrecidos com a reviravolta que dá o mundo a nosso redor, sem pedir licença.
As fotos a seguir são uma pequena amostra dos momentos que compartilhamos. Aliás, a vida é tão corrida que a maioria dos momentos sequer foi registrada. Mas o clima era esse que se vê nessas imagens. Muito amor à profissão, aí embutido o gigantesco amor pelo mar, seriedade nas horas de ser sério, descontração nas horas de não ser sério. Maceió passou a ser uma das válvulas de escape às quais recorro volta e meia para desacelerar o ritmo sulista, e o Rio de Janeiro permitiu à Mônica dar asas a alunos que fizeram por merecer sua confiança, e a fizeram apostar em seu futuro acadêmico. Pois seus braços alcançavam longe no território nacional quando o negócio era ajudar alunos a se desenvolverem. Maceió entrou definitivamente no mapa das esponjas do Brasil, e foi lá que nasceu este Blog, no início de 2010.
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Dá para perceber que a dupla Artur e Merlim de aquacães era absolutamente inseparável de nossas aventuras? |
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Mônica esteve presente aos dois Simpósios Brasileiros de Espongiologia, Curitiba (2008) e Salvador (2012), sempre muito participativa, integrada, torcedora, crítica quando necessário. |
Ela tinha também grande orgulho de suas fotografias aéreas, que sem sombra de dúvida divulgaram a beleza e magnitude dos recifes costeiros do litoral central do Estado de Alagoas, para o Brasil, e vários cantos do mundo. Certamente, a mim elas fisgaram! |
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Celebração por uma semana produtiva, com boas coletas, palestras, ou o que fosse, tinha endereço certo - Wanchako. Não era difícil arrastar Mônica e Hilda para lá. Não pensem que do outro lado da câmera não havia um sorriso maior ainda! |
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Degustação de vinhos no Rio de Janeiro, ou degustação de cocos em Maceió? Não importa,. Sempre nos divertimos muito. Bom seria se seguíssemos assim. |
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A seguir algumas publicações que fizemos em parceria. Algumas ainda virão, e seguramente muitas outras viriam. No que depender de nós, continuaremos buscando novidades no litoral alagoano, um local privilegiado em termos de esponjas, águas quentes e claras, e praias paradisíacas.
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"Primeira descrição das gêmulas de Ephydatia facunda Weltner, 1895 (Porifera, Haplosclerida, Spongillidae) por microscopia eletrônica de varredura, com observações subaquáticas de uma grande população do nordeste do Brasil" Nosso primeiro artigo em colaboração. Primeira vez que Eduardo viu esponjas de água doce por mergulho.
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"Demospongiae (Porifera) dos recifes de coral rasos de Maceió, Estado de Alagoas, Brasil" Primeiro artigo derivado da Dissertação de Mestrado de Victor, desenvolvido no laboratório chefiado pela Mônica e pela Hilda, que hoje conta com uma coleção, que se ainda não o fez, certamente está à beira de alcançar os 1000 espécimes de esponjas
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"Mycale alagoana sp.nov. e dois novos registros formais de Porifera (Demospongiae, Poecilosclerida) de recifes de águas rasas de Alagoas (Brasil)"
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"Três novas esponjas intermareais (Porifera: Demospongiae) de recifes urbanos brasileiros em franja (Maceió, Alagoas, Brasil), e suporte à exclusão de Rhabderemia de Poecilosclerida" Segundo artigo da Dissertação de Victor, gerou uma tremenda repercussão na mídia tanto por conta de se tratarem de recifes do Município de Maceió, quanto pelo fato que cada espécie nova tinha uma cor distinta - amarela, vermelha e azul.
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"Duas novas espécies de Haliclona de águas rasas do nordeste do Brasil (Demospongiae: Haplosclerida: Chalinidae)". Primeiro artigo da Dissertação de André.
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A seguir, uma pequena seleção de imagens de esponjas alagoanas feitas pela Mônica, desempenhando seu papel de Embaixadora. Diversas destas espécies são novos registros para o Estado, e há também possíveis espécies novas que aguardam descrição.