FERNANDO DE NORONHA
14º dia da expedição (20/04/2016). Mergulho com a Mar de Noronha a partir da Praia do Porto, com o objetivo de avaliar que esponjas encontraríamos no naufrágio do navio grego "Eleani/Eleni Sthathatos" (www.naufragiosdobrasil.com.br), encalhado em 1929, afundando lentamente até 1946. Sabíamos de antemão tratar-se de um mergulho bem raso, de modo que a expectativa ficava por conta das esponjas incrustantes. Mas, tivemos uma grata surpresa, como relatado a seguir.
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Ao chegar na Praia do Porto, nos deparamos com a infraestrutura que teríamos para o tão aguardado 1º mergulho. Em resumo: todas as bolsas foram para a areia de cara. Uma pena, porque todo o resto fluiu à perfeição, com guias dedicados, tranquilos, prestativos, e acima de tudo, o mergulho foi espetacular. Não se pode dizer que era o paraíso das esponjas, mas certamente um excelente começo de 3a perna da Expedição TAXPOmol Biodescoberta 2016. Tartaruga e arraia na entrada. Tubarão no durante. E barracuda na saída. Modéstia à parte, acreditamos que as próximas imagens deixam claro tudo isso. |
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O mergulho começou bem raso, em cerca de 3-4 m de profundidade. Mas não era a pouca água que impedia os muitos peixes de transitarem, por vezes escurecendo os locais onde trabalhávamos. Não há como não se emocionar com a magia de uma parede viva que se move praticamente em uníssono, e que responde quase que a cada um de nossos movimentos com pequenas ondulações ou drásticas mudanças de curso. À esquerda, parte da estrutura do navio grego sossobrado sobre o qual estávamos trabalhando. |
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Um cardume de típicos guardiões das locas. O naufrágio era bem recortado, com grande complexidade estrutura que permitia buscar esponjas nas mais diversas situações de inclinação do substrato e de exposição à iluminação. Porém, de uma forma geral, substratos de ferro não são a preferência das esponjas, de modo que a diversidade no naufrágio era menor que nas blocos de rocha (matacões) do entorno, em especial sob os mesmos. |
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Outro típico guardião das locas, com uma particular atração por naufrágios. Ainda me lembro da primeira vez em que os vi em um naufrágio em Salvador (BA), na caldeira do "Germânia", próximo ao Farol da Barra. Isso foi lá por volta de 1987 ... O fato é que estes "barrigudinhos" compartilham do mesmo gosto das esponjas por ambientes ciófilos (abrigados da iluminação direta), de modo que volta e meia nos encontramos durante nossas expedições de Biodescoberta. |
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Como dito, fossem essas estruturas rochosas, e veríamos esponjas em pencas. Em sendo de ferro, apenas crostas ou pequenas esponjas maciças eram encontradas. No caso específico deste setor do naufrágio, o espaço era muito apertado para permitir entrada e estudo detalhado da comunidade incrustante, o que só se podia fazer próximo às avarias do casco. |
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Cristiana e Camille buscando esponjas. No caso das duas, principalmente para o projeto de doutoramento de Camille. Ao menos uma Cliona e uma Monanchora elas encontraram. |
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MNRJ 20261 - Spirastrella hartmani. Essa era a espécie de esponja mais abundante no mergulho. A imagem inserida mostra como é cavernoso o corpo desta esponja. Perfurado por inúmeros canais e lacunas, o padrão não transparece da imagem maior, onde percebe-se apenas alguns canais que convergem aos ósculos (aberturas exalantes) da esponja. Essa espécie também apresenta padrão de distribuição Brasil-Caribe, e nos servirá para o estudo pretendido de influência do Rio Amazonas na conectividade de populações de distribuição ampla no Atlântico Tropical Ocidental. |
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André e Sula vêm trabalhando em dupla desde as primeiras coletas no Ceará. Apesar da água clara, o que permitiria um maior afastamento dos pesquisadores de forma a ampliar a área de busca pelas espécies alvo, como não temos câmeras fotográficas para todos, precisa-se trabalhar em dupla para assegurar que todos os espécimes coletados sejam fotografados in loco. |
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Um dos bisbilhoteiros que "pesquisam" o que fazem esses gigantes próximo à sua casa, raspando e quebrando alguns dos matacões onde ele costumava perambular dia após dia com tranquilidade. Aproximadamente 1h depois, tudo volta à mais santa tranquilidade ... |
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MNRJ 20280 - Mycale do grupo arenaria (Poecilosclerida), um achado inesperado. Espécie mais rara, originalmente descrita da Região do Cabo Frio por Eduardo e a pesquisadora francesa Nicole Boury-Esnault, de Marselha, seu status taxonômico está em cheque no momento. A bióloga Dora Leite, mestranda no Museu Nacional sob orientação de Eduardo, realiza um estudo onde deverá verificar se registros subsequentes de espécimes pertencentes a este grupo tratam-se da espécie original, arenaria, da espécie mais recente, alagoana, ou, quem sabe, tratam-se todos de uma única espécie, ou até mesmo de diversas espécies. Mycale alagoana foi descrita de Alagoas por Victor Cedro e colaboradores em 2011. Mycale arenaria foi citada para ilhas oceânicas brasileiras por Fernando Moraes e colaboradores (Atol das Rocas, Fernando de Noronha), e espécimes ainda não formalmente registrados, nem tampouco 100% identificados foram coletados por Eduardo na Martinica e no Panamá. |
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MNRJ 20124 - será uma Hyattella cavernosa? Se for, é a primeira vez que a vemos viva. Encontrada no final do mergulho, era uma das espécies mais abundantes no interior de uma parte do naufrágio dentre as mais rasas e recortadas, que na verdade parecia mais um microônibus. |
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Um dos residentes de maior personalidade no naufrágio, esse tubarão lixa (lambaru) resolveu dar uma circulada em dado momento, nos permitindo um registro diferente daquela clássica imagem onde o tubarão está meio dorminhoco dentro de uma loca. |
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Fim do mergulho. Cristiana, Eduardo e o Divemaster André (Mar de Noronha) chegam de volta à Praia do Porto. |
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Um bom mergulho sempre pede uma comemoraçãozinha básica depois, a qual, porém, não pôde se estender mais que 20-30 min, dada a necessidade de fixar o material coletado para os diversos estudos pretendidos. |
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Já na pousada, hora da triagem do material que vai direto para o etanol (taxonomia), que vai ser limpo para em seguida ser preservado no etanol (quimiodiversidade), cacodilato e glutaraldeido (histologia), RNAlater (sistemática molecular), etc ... |
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