FERNANDO DE NORONHA
Quanta expectativa! Viajar para Noronha decididamente não é para qualquer um, e percebe-se que paira sobre a ilha uma aura de "não me toque", por conta de uma suposta fragilidade, cujo abraço acolhedor custa aos afortunados visitantes uma taxa (e não é qualquer taxa ...) de preservação ambiental, uma taxa de visitação do Parque Nacional (OK, muitos parques cobram), mas mais que tudo, preços exorbitantes desde uma simples garrafinha de água-mineral até outros, de outra ordem de grandeza, no tocante à hospedagem, transporte (afora o ônibus de horário incerto), alimentação, etc.
Mas, como qualquer pedaço do território brasileiro, este também merece ser estudado. Desta forma, como pesquisadores, e após um considerável esforço no sentido de obter as necessárias licenças e isenções, rumamos para as ilhas. Já de cara no aeroporto de Natal (São Gonçalo do Amarante) a "agradável" surpresa de que cada kg extra de bagagem nos custaria R$23,00 pela companhia Azul. Foram R$800 apenas por conta disso. Vá conseguir espremer equipamentos de mergulho, de coleta (marretas, sacos, frascos, ...), freezer portátil, etc ... dentro dos 23 kg de direito de cada passageiro!
Porque escolhemos Fernando de Noronha? Essa é fácil. Era o único local que conhecíamos na costa brasileira em que seria garantido conseguir material da Grande Esponja Barril (Xestospongia muta), um dos alvos da tese de Camille. Ela já havia buscado a espécie em Salvador, onde já a vimos anteriormente, porém sem sucesso. Lá ela é rara e pequena, ao menos nos locais próximos à Salvador em que normalmente se mergulha. Portanto tínhamos de ir.
Chegando em Noronha, a 2a surpresa, nossos nomes não constavam da lista online de isentos da taxa de preservação, pequena contrapartida do governo pernambucano para facilitar a vida daqueles que não visitam a ilha na condição de turistas. Mas o fato é que a espera no aeroporto passou num piscar de olhos pois a cordialidade das Sras. responsáveis por verificar o tema da isenção era a melhor possível.
Finalmente chegamos à Pousada do Eli, que como quase tudo em Noronha, oferece menos por mais. Porém, aqui também não há qualquer queixa quanto à cordialidade do pessoal, pois Paula e Emerson fizeram o que estava ao seu alcance para que nos sentíssemos em casa. Uma marca registrada nossa é que não raro não cabem nos quartos da pousada toda a tralha que carregamos conosco. Desse modo, ocupamos boa parte da mansarda da pousada, fato facilitado pela conveniência de que não havia muitos outros hóspedes, e pelo fato notável de que, ao que consta, roubos não são frequentes na ilha. Desta forma conseguíamos quase secar nossos equipamentos de mergulho entre um dia e outro, o que jamais ocorreria tivesse tudo ficado empilhado dentro do banheiro. Mais importante, senão mesas e cadeiras, tínhamos ao menos espaço para processar os materiais coletados, o que sempre levava ao menos um par de horas após cada saída para mergulhar. O ICMbio viria a nos oferecer a possibilidade de utilizar uma área de laboratório, mas como cada ida do porto ou da pousada ao instituto nos custaria R$100 a ida e volta dos dois táxis necessários, optamos por nos virar na pousada mesmo. Dessa forma, também podíamos nos valer do apoio dos quartos (materiais de triagem, frigobar, minifreezer, etc).
Uma vez instalados, a prioridade 1 era ir ao ICMbio nos apresentar e discutir um plano de trabalho. Encontramos com o Chefe do PARNA, Eduardo C. de Macedo, e funcionária Thayná J. Mello, responsável pela área de pesquisa dentro da unidade de conservação. De cara estava claro que tínhamos um entrave a falta de um cronograma de atividades definitivo. Ter um cronograma definitivo implicaria em fretar um barco de mergulho exclusivo, o que estava fora de nossas possibilidades. A melhor oferta que obtivemos foi de R$5.500,00/dia, caso a tivéssemos fechado até Dezembro do ano anterior. Mas, o contingenciamento pela CAPES dos recursos outorgados a nosso projeto, e a perspectiva de ter de gastar muito em Fortaleza para viabilizar nossas almejadas coletas em alto mar, impediu de todas as formas que considerássemos essa opção. Assim, chegamos à ilha sem um cronograma definitivo. Combinamos que tão logo o tivéssemos, informaríamos o ICMbio.
Próximo passo, operadoras de mergulho, para ver o que conseguíamos em termos de "desconto para pesquisadores", na esperança de não voltar de Noronha sem um mergulho na bagagem ao menos. Afinal, no mínimo mais minimalista, precisaríamos amostrar a Grande Esponja Barril. Lembram-se? Obviamente, não éramos seis pesquisadores na ilha à cata de uma esponja! Mas, se não conseguíssemos viabilizar os mergulhos SCUBA, ao menos snorkel faríamos.
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