quinta-feira, 20 de abril de 2017

TB'16 - Expedição TAXPOmol Biodescoberta 2016 (Dia 17)

FERNANDO DE NORONHA

16º dia da expedição (23/04/2016). Mergulhos 05 e 06 com a ATLANTIS. Para hoje nos reservaram a Enseada das Cagarras e a Ressurreta, dois pontos dos quais Eduardo guardava ótimas recordações dos mergulhos realizados em 2003.


Arquipélago de Fernando de Noronha "pescado" do Google Earth, indicando a localização dos dois pontos de mergulho do dia.

Cagarras - Estávamos à cata de Chondrilla complexo nucula, a pedido das Profas. Dras. Carla Zilberberg e Michelle Klautau (Instituto de Biologia / UFRJ). Infelizmente, muito mais comuns eram as Chondrosia aff. reniformis, como essa da imagem. Apesar de classificadas em ordens distintas após a última revisão da classificação dos poríferos, por vezes é muito difícil diferenciar uma Chondrilla de uma Chondrosia em campo.

O tema Chondrilla nos é particularmente interessante, pois resultados gerados ainda nos anos 90 revelaram que as supostas Chondrilla nucula da costa brasileira não pertenciam à mesma linhagem do material Mediterrâneo, de onde a espécie fora descrita originalmente. Aliás, tampouco materiais oriundos da região caribenha. A estes últimos já se atribuiu o nome Chondrilla caribensis, mas no caso brasileiro o problema é mais complexo, pois não se consegue reconhecer através da morfologia as linhagens resgatadas no estudo bioquímico.

Dois estudos importantes para entender a questão acima são:

Klautau et al (1999) Evolution, 53: 1414-1422
Rützler et al (2007) Marine Ecology. 28 (Suppl.1): 95-111

Cagarras - Camille Leal se aproxima da primeira Xestospongia muta (Grande Esponja Barril) do dia. Este era um dos alvos de nossas coletas em Fernando de Noronha, localidade onde tínhamos certeza de que a encontraríamos. Ao todo precisávamos amostrar seis esponjas desta espécie, conforme a seguinte estratégia: duas amostras do bordo superior da esponja, duas da superfície interna, e duas da região basal externa. Cada amostra com aproximadamente 50ml. O objetivo desta subamostragem é conhecer a variabilidade do microbioma (comunidade microbiana associada) desta esponja, em cada localidade, de modo a melhor compreender a variabilidade na ampla escala geográfica abarcada em nosso projeto MBQmar (Brasil - Caribe).

Cagarras - Uma Dragmacidon reticulatus, uma das espécies-alvo do doutoramento de Humberto Fortunato (UERJ), que realizará estudos de variabilidade metabolômica na França.

Cagarras - Phorbas amaranthus, espécie-alvo do projeto de pós-doutoramento de Sula Salani, onde se pretende avaliar se há variabilidade ao nível celular e subcelular, bem como averiguar a identidade genética de materiais do Brasil e do Caribe (Ilhas Virgens e Panamá).

Cagarras - Esta Agelas cf. sventres era uma das espécies mais abundantes do arquipélago, o que nos possibilitou coletar material suficiente para uma caracterização química detalhada, com o objetivo de verificar se são produzidos os mesos compostos por espécimes do Brasil e do Caribe.

A equipe à caminho do 2º mergulho. Da esq para a dir: Sula, Humberto, André, Cristiana, Camille e Eduardo.

Ressurreta - Ao chegarmos ao local do mergulho constatamos que a caverninha já estava ocupada ... Mas enfim, pedimos licença e tocamos nosso trabalho, pois voltar à Noronha não está nos planos próximos de viagem, em decorrência dos custos elevados de acesso e estada, e da incerteza quanto ao repasse de recursos devidos ao projeto pela CAPES.

Ressurreta - Uma das espécies que mais chamava a atenção neste lugar, apesar de não muito abundante, era esta provável Dercitus latex. Sua cor intensa destoava do entorno, com predominância de brancos e amarelos.

Ressurreta - Uma Clathrina amarela (esponja calcarea), em uma profundidade aproximada de 4-5 m. Em Fernando de Noronha essas esponjas se mostraram bastante raras e pequenas. Esta habitava a superfície inferior, abrigada da luz, em uma rocha do tamanho de um melão, em um local com intenso hidrodinamismo. Aliás, em um dado momento tivemos a sensação de que o mar nos atiraria nas pedras.

Baía do Sancho ao entardecer, aproveitando umas horinhas de luz que nos sobraram após a coleta e triagem do material.

Baía do Sancho, agora vista do nível "térreo". Este é certamente um local que se aproxima bastante do que nosso imaginário tende a definir como paradisíaco.

Outro ângulo, mesmo entardecer. Agora, de cara para os Morros Dois Irmãos, carinhosamente apelidados de "Fafá de Belém", ao largo dos quais fizemos o primeiro mergulho da véspera.

Por do sol na Baía dos Golfinhos.

No dia seguinte faríamos nossos dois últimos mergulhos com a Atlantis Divers, depois dos quais restaria-nos apenas arrumar todo o material que despacharíamos pela chata para Recife, e de lá por transportadora para o Rio de Janeiro, arrumar nossos próprios materiais pessoais, e fazer hora para poder voar. Ou seja, baixar o nível de nitrogênio no sangue para minimizar o risco de embolia no voo para o Rio de Janeiro.

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