sexta-feira, 21 de abril de 2017

TB'16 - Expedição TAXPOmol Biodescoberta 2016 (Dias 18-19)

FERNANDO DE NORONHA

17º e 18º dias da expedição (24-25/04/2016). Nossos dois últimos mergulhos com a Atlantis. Retornamos à Laje Dois Irmãos e fechamos com as caverninhas (locas) da Ilha do Meio. Para mar interior, com certeza foi chave de ouro. Para uma próxima procuraremos uma época em que seja mais garantido poder alcançar as Pedras Secas, no mar externo, pois a alto nível de recorte do habitat, com inúmeros túneis e locas, propicia um sem fim de opções para o assentamento de esponjas. De acesso mais fácil, temos no litoral potiguar o Batente das Agulhas, onde estivemos em 07/04/2014 como narrado em nosso post de 13/04/2014 (http://esponjasbrasileiras.blogspot.com.br/2014/04/ii-expedicao-do-pnpd-expedicao_13.html).



Laje Dois Irmãos (seta inferior) e Ilha do Meio (seta superior).


Eduardo, pronto para entrar. O combinado fora que saltaríamos primeiro com um divemaster (muito simpático e sorridente), haja vista nossa "enfadonha" mania de ficar praticamente poitados no local em que entramos n'água, enquanto a Atlantis levaria os demais mergulhadores para um mergulho mais "emocionante". 


A Laje Dois Irmãos não é dos melhores locais para esponjas. O líquido e certo ai são as Xestospongia muta (Grande Esponja Barril). E foi por causa delas que retornamos à Laje, pois ainda nos faltavam 2-3 amostras para completar nossa série comparativa, como explicado em post anterior. Nesta foto, uma Monanchora arbuscula, também muito comum, de coleta difícil dado seu caráter finamente incrustante nesta localidade. Desta, já tínhamos as seis réplicas pretendidas. Porém, aproveitamos a oportunidade para buscar alguma amostra maior que as que já tínhamos obtido, com medo de que aquelas se mostrassem insuficientes para os estudos metabolômicos que se iniciariam na USP de São Carlos.

Findo o mergulho da outra turma, o Discovery vem a nosso encontro para transporte à Ilha do Meio.


No teto de uma das locas da Ilha do Meio, onde o espaço, apesar de apertado, permitia que se trabalhasse confortavelmente de pé, encontramos uma esponja marrom-acinzentada com grandes ósculos, que pareceu à Sula pertencer a um dos gêneros com os quais ela trabalhara em seu doutoramento. Após a coleta notamos que a tal esponja era possivelmente perfurante, escavadora, e que produzia abundante muco quando cortada (os filamentos gelatinosos que se vê na foto).

A esponja cinza foi coletada em quantidade suficiente para caracterização química completa. Porém ainda não temos um nome para ela. Falta organizar um mutirão de identificação para dar nome ao menos às esponjas mais radiantes nas imagens submarinas.  Abaixo na imagem, a esponja cor de abóbora é uma Agelas, possivelmente sventres.

Esponja da Classe Homoscleromorpha, muito abundante nas locas da Ilha do Meio, que também foi coletada para caracterização química completa. O projeto MBQmar concedeu a bolsa de doutoramento a Anaíra Lage de Santa Luzia de Jesus, que se dedica à revisão mundial do gênero Plakina

Parecem rochas mas não são. Às vezes englobam uma rocha ou rodolito, mas não raro constituem-se apenas de "esponjas móveis". Na foto o que se vê são inúmeros fragmentos da esponja Aiolochroia crassa, que se desprendem de seu substrato após adquirir certas dimensões e enfrentar o embate de uma ressaca. Não se sabe por quanto tempo sobrevivem desta forma, rolando pelo fundo, mas o certo é que, por bem ou por mal, isto acaba funcionando como reprodução assexuada para alguns. Isto porque, com alguma sorte alguns destes fragmentos podem acabar se alojando em locais onde consigam novamente se fixar e voltar a crescer.
Final de mergulho, Sula em ascensão, mas ainda "100% Garota Propaganda" da Atlantis. Como fazer propaganda da ciência com os recursos que temos? Vamos de Blog, né? Roupa de mergulho com nome da instituição ainda não é uma realidade.

E para garantir que estávamos mesmo em Fernando de Noronha, apesar do furo em nossa passada de véspera pela Baía dos Golfinhos, eles apareceram para a despedida e acompanharam o Discovery por um bom trecho. Sula não desperdiçou a oportunidade e clicou esses animais espetaculares.

O dia 25 foi de arrumações, empacotamentos, acertos, etc ... afinal, precisávamos nos assegurar de que todo o material chegaria são e salvo no Rio de Janeiro. A logística de transporte de e para Fernando de Noronha é bem complexa para quem só está acostumado com o continente. Não tínhamos como arcar com os custos do transporte aéreo de nosso excesso de bagagem, nem muito menos se poderia transportar por via aérea a quantidade de etanol que tínhamos conosco. Acertamos que a mesma barca que trouxera o etanol de Recife, agora o levaria de volta àquela cidade, onde nosso amigo e colega, Prof. Dr. Ulisses S. Pinheiro (UFPE) gentilmente se prontificara a despachar tudo para o Rio por via rodoviária, tão logo a barca aportasse na capital pernambucana. Mas, apesar de toda a burocracia para resolver, ainda conseguimos dar uma escapadinha para uma apneia na face externa do molhe do Porto de Santo Antônio, para ver como andava de incrustações por lá.



Incrustações até que havia. Porém o acesso às mesmas é beeem complicado. Imagino que o hidrodinamismo seja considerável nesta localidade em dias de ressaca, de modo que as esponjas que se vê, estão no fundo de gretas, fendas e pequenos túneis, em sua maioria inacessíveis a um mergulhador. Tampouco vi qualquer indício de que a diversidade pudesse ser alta. Na foto, uma Amphimedon viridis, coletada.

Já peixes, havia, e bastante. Nada muito grande, pois essa deve ser uma área de pesca intensa dada a facilidade de acesso.

Este linguado até que não era dos menores, com cerca de 30 cm.

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