domingo, 13 de abril de 2014

2a Expedição do PNPD - EXpedição POríferos do CE e RN (EXPO-CERN): Batente das Agulhas (RN)

07 Abr 2014 - A idéia era sair às 05:00h, portanto despertador às 04:30h. Assim começou esse longo dia. Todos na Kombi com um certo atraso, é claro, e cerca de 90min de viagem à Natal, onde acabamos chegando depois das 07:00h. O encontro fora marcado no Iate Clube de Natal, do qual me lembrei da época dos embarques para o Atol das Rocas, em 2002 e 2003. Aí já nos aguardavam o pessoal da Natal Divers (http://www.nataldivers.com.br/), sob a batuta de Flávio Marcato, mergulhador 200 estrelas, que muito nos ajudara na tentativa de viabilizar outros mergulhos ao longo da EXPO-CERN. Além de nós, mais uma turminha, incluindo um argentino, que iriam curtir o badalado Batente das Agulhas. O Dramin já circulava em minhas veias desde a véspera, de modo que o sono era implacável. Aproveitei o espaço na embarcação para dar aquela esticada, deixando o resto da turma curtindo seu papo animado. Haja papo para 2h de navegação!

Depois do "briefing" (planejamento do mergulho) pelo Divemaster, eu passei minhas instruções à equipe. Boa parte da turma era BEM inexperiente, e foi muito conveniente ter um Divemaster conosco na água fazendo a supervisão do mergulho de todos. Se sobrasse para mim este papel, eu não coletaria nada. Como a instrução passada pelo Divemaster era que o 1º a chegar na reserva determinava o momento da subida de todo o grupo, eu complementei que queria todos mergulhando acima de mim. Pergunta se alguém deu ouvidos! Motim geral! Eu com 110 BAR tive que iniciar a subida ... Tudo bem que o lugar era de tirar o fôlego, mas não se precisava levar a expressão tão ao pé da letra!!

Com relação às esponjas, talvez seja prematuro emitir um laudo. A primeira impressão foi que esponjas abundam, porém não são tão diversas. Dizem os alunos que havia um sem número de esponjas pequenas, e o fato é que com dois mergulhos de 45min cada, pelo menos para mim, não houve tempo de esmiuçar o inventário. Isso dependeria não somente de buscar esponjas pequenas expostas ou em cavidades, mas também, muito importante, virar rochas de menores dimensões. Assim, as portas estão abertas para quem tiver oportunidade de voltar à Natal para uma série de mergulhos no local. Vale lembrar que os dois mergulhos saíram a R$350 por pesquisador, portanto não vá de bolso vazio.

Mais informação sobre o Batente:

https://www.youtube.com/watch?v=CQ0bmx-n6f8
http://jornaldehoje.com.br/exclusivo-equipe-do-portal-jh-mergulha-fundo-e-desvenda-os-encantos-do-batente-das-agulhas/
http://nataldivers.com.br/verNoticia.php?id=7
http://vimeo.com/36257364



Equipe excitada com o super mergulho que faríamos. Equipamento completo para todos, e o tempo aparentando estar bom.


Faltando 10min para a chegada ao point, hora de todos se equiparem. Era o tempo do Divemaster fazer a amarração da embarcação, e retornar para nos buscar. Em primeiro plano, Báslavi, seguida de André, Sula e Camille, e ao fundo, Flávio Marcato.

A descida não era exatamente uma descida ... o cabo estava praticamente na horizontal, e nos tomava muito tempo baixar. O esquema é montado para facilitar a equalização da turma "mais entupida", mas acaba nos surrupiando uns 2min de fundo. Fazer o quê?

Já no fundo, eis a marca registrada do local: Aplysina cf. fistularis. O fato é que a variabilidade morfológica em Aplysina é tal no Batente, que justificaria um estudo detalhado. Variam a altura e o diâmetro dos tubos, seu nível de fusionamento, e sua superfície (com cavidades ascentuadas neste caso). Coletamos apenas um espécime para bioprospecção. O ideal teria sido coletar ao menos uma dezena, buscando os extremos da variação para ver se há diferença em seus cromatogramas (perfis químicos).

Profundidade máxima que alcançamos no 1º mergulho: 20,9m. 

MNRJ 18265, uma Ectyoplasia ferox coletada para bioprospecção. 

MNRJ 18268, uma provável Plakortis, também coletada para bioprospecção.

Parte de nossa platéia tinha esse biotipo serpentiforme. As duas moréias que vi, aparentemente da espécie Gymnothorax funebris, pareciam gêmeas, como se verá mais abaixo. 

Outro espécime de Aplysina cf. fistularis, agora com diversos tubos bastante fusionados, além de possuir tubos com cavidades na superfície e outros quase lisos, lado a lado. Não havia para onde olhar que não se vissem enormes Aplysina.

A beleza das Monanchora (esponja vermelha ou vermelha com canais brancos) compensa um pouco a falta dos alcionáceos, tão emblemáticos no Indo-Pacífico. Camille gastou boa parte de seu ar catando estes bichos, já se antecipando às coletas que serão necessárias para o desenvolvimento de seu projeto de doutoramento, no âmbito do Programa de Ciências do Mar (CAPES) - Projeto MBQMar.

Ainda mais que acima, esta moréia deve adorar uma casa decorada com inúmeras esponjas nas paredes. Será que ela permitiria que se "roubasse" alguma "obra de arte" de sua coleção?

Não vai adiantar fazer apostas, pois o espécime não foi coletado. Mas, será que dá para chamar isso também de Aplysina cf. fistularis?

Esponjas: TREMEI! Eis aí seu predador! O redondo aí da foto é o fofoleti do Pomacanthus paru, o peixe-frade-francês, um conhecido apreciador de esponjas em sua dieta. Além dele, havia também o peixe-frade-Real, Holacanthus ciliaris, e o "Piu-piu do Frajola", o tricolor, Holacanthus tricolor. Com a quantidade de esponjas que lá havia, esta turma nunca vai passar fome!

Se Camille foi nossa musa embarcada, Sula certamente mereceu o posto de sereia com seu desempenho nas fotos subaquáticas, para as quais ela se preparava até com brincos! Trocando de asssunto: dá para chamar essa esponja de Aplysina cf. fistularis também? Pelas diagnoses de Pinheiro et al. (2007, Zootaxa 1609), é isso aí! Infelizmente ainda não se encontrou bons marcadores moleculares para as esponjas deste gênero, ou então não estamos querendo ver a verdade debaixo de nossos narizes: SÃO POUQUÍSSIMAS ESPÉCIES, E MUITO VARIÁVEIS MORFOLOGICAMENTE.

Ficamos com Aplysina pseudolacunosa ou A. muricyana? Lembrando que, qualquer destes "dedos" analisado separadamente do resto da esponja provavelmente induziria o identificador a chamá-la de A. cauliformis ou A. fulva. Durma-se com um barulho desses ...

Um belo cardume de piranjicas pairava sobre o topo do Batente, onde também se viam abundantes Aplysina.  Esse é o lugar para fazer o ar do cilindro SCUBA render o máximo!

Os muitos túneis presentes no Batente realmente tornam o lugar muito especial. Imagino que seriam necessários uns 20-30 mergulhos para finalmente chegarmos a um conhecimento mais pormenorizado das esponjas do lugar. Algum estudante interessado em encarar essa sequência de mergulhos? Mas tem que ter o olho treinado para achar esponjas crípticas, ou vai deixar passar 70% da fauna.

Nossa primeira Verongula gigantea, a gente nunca esquece! Só conhecia a espécie das dragagens do Projeto REVIZEE, e das fotos do Fernando Moraes na Ilha da Trindade.





Eu não havia mencionado, mas tanto na ida como na volta fui acordado por chuva em alto mar. Na volta, a missão já estava cumprida mesmo. Quem se importava? O único senão era a lembrança de que o banho em Maracajaú seria frio para todos, pois na Casa do Pesquisador não havia chuveiros elétricos funcionais.

Na volta ao Iate Clube, tempo bom de novo. Esse foi um super dia! Obrigado Flávio, Nilda e Ítalo, "staff" da Natal Divers! Foto M.S. Carvalho.

Como se não bastasse despertar às 04:30h e a faina em alto-mar, ocorreu-nos ser mais prático já deixar ao menos parte das esponjas coletadas, no Laboratório da Profa. Renata Mendonça Araujo, do Instituto de Química/UFRN, nosso contato em Natal para o tema da bioprospecção. A ideia original era que ela fosse à Maracajaú buscar as esponjas conosco, pois não sabíamos que iríamos fazer nossa última coleta de grandes proporções, justamente em Natal. Não se tratava apenas de entregar as esponjas, pois estava tudo soterrado sob gelo, misturado com o material coletado para taxonomia, e uma ou outra amostra para nosso colega paulista, o químico Prof. Roberto Berlinck. Precisávamos nos certificar que as etiquetas com códigos MNRJ estavam legíveis, sub-amostrar nosso espécime testemunho (voucher), e triar os epi- e endobiontes, para evitar contaminação das amostras. Foto M.S. Carvalho.

Parte do trabalho efetuado no laboratório da Profa. Renata consistiu na limpeza das amostras destinadas à bioprospecção. Nesta foto nota-se nitidamente uma esponja incrustante vermelha, provavelmente Monanchora, crescendo sobre Topsentia ophiraphidites. As Monanchora, surpreendentemente, eram todas incrustantes. Já a Topsentia era sempre maciça, muito frequente, e cheia de epibioses.  Foto M.S. Carvalho.



4 comentários:

  1. Poxa... Duzão,vc se esqueceu q teve uma "vira pedras"... Apesar de rapidinho aonde eu vi uma Hymedesmiidae!! O.o ... rsrsrsr Coletada!! =D

    Mas o lugar é alucinante demais!! Querendo voltar, só chamar ;D!!

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    1. É vero, esqueci mesmo. É que eu não estava junto da "patota", e fiquei achando que com tanta esponja grande no entorno, quem é que iria se lembrar de virar alguma pedra?

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  2. A ultima foto parece tomate seco por cima!

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