sábado, 30 de abril de 2016

TB'16 - Expedição TAXPOmol Biodescoberta 2016 (Dias 10-11)

10º e 11º dias da expedição (17-18/04/2016). Dia 16 tratamos de alcançar Pirangi, nossa próxima parada. Eu seguia com a Peugeot 2006 SW, mal conseguindo enxergar o espelho retrovisor em função do entulhamento de bagagens neste carro. No outro, um Gol sem direção, sem ar, sem rádio, e sem espelho retrovisor (ou quase isso), seguiam os demais expedicionários: Sula na direção, André, Humberto, Camille e Cristiana. O Gol tinha ainda a missão de encontrar com a Profa. Renata Mendonça da UFRN, que havía nos conseguido um transformador para usar com o microscópio, e nos cederia um pouco mais de solvente para preservação de amostras para estudo químico. Em Pirangi, o desafio era conseguir viabilizar um mergulho autônomo, pois havíamos visto as imagens recebidas de Lígia Rocha (http://pontadepirangi.org.br/). Infelizmente, os astros não estavam a nosso favor, e após movido meio mundo para viabilizar o mergulho de uma dupla nas localidades conhecidas como Mestre Vicente ou Barreirinhas, 30 min antes do horário combinado com o pescador Del, escutamos no Bom Dia RN a seguinte notícia:

"A Marinha do Brasil alerta aos navegantes da área do litoral do Rio Grande do Norte, sobre a previsão de Ressaca com ondas de SE/E de 2,5 metros, na área entre as cidades de MACEIÓ (AL) e TOUROS (RN), a partir de 18ABR16 das 12h00min até 21ABR16 às 06h00min;
A Capitania dos Portos recomenda que as embarcações de pequeno porte evitem navegar no mar nestes dias e que as demais embarcações redobrem a atenção quanto ao material de salvatagem, estado geral dos motores e casco, bomba de esgoto do porão, equipamentos de rádio e demais itens de segurança."

Resta-nos agradecer não apenas ao pescador Del que assegurou a embarcação e buscou formas de conseguir cilindros adicionais para SCUBA, ao Sr. Canindé da UFRN, que nos emprestou dois cilindros SCUBA cheios e algum lastro para reforçar o que trouxéramos, à Lígia e ao Guido do Projeto Ponta de Pirangi, pelos esforços para viabilizar essa coleta e as dicas de onde e como faze-la, à Profa. Renata Mendonça, pelo solvente adicional e transformador, e à Sra. Noelle da Pousada Os Sixties (https://www.airbnb.com.br/rooms/2706597), por nos permitir estacionar os veículos dentro de sua pousada por questão de segurança.

Porém. não ficaríamos a seco nos dois dias previstos para Pirangi em nosso cronograma, e assim foi. Mergulhos no entremarés nos dias 17 e 18, na localidade de Pirambúzios, apesar das condições totalmente adversas.

Os recifes de Pirambúzios, ao sul de Pirangi, são certamente convidativos a uma inspeção, e na falta de condições de mar que nos permitissem realizar os mergulhos SCUBA pretendidos, uma excelente opção. O círculo vermelho ilustra a área que Lígia Rocha nos havia sugerido visitar, por sua maior profundidade. Porém as ondas que entravam pelo canal indicado com a seta, nos obrigaram a permanecer na área do círculo amarelo, muito rasa. Pior mesmo foi a turbidez da água, porque esponjas até que havia, como ilustram as próximas imagens.

Era quase que óbvio que encontraríamos essas esponjas neste recife. Raso, muita sedimentação, boa circulação, e "voilá", aí estão. Cinachyrella sp. serviu não apenas para compor o material que Sula estudará em suas comparações Brasil x Caribe, como para compor um lote de material (500-1000gr) do qual a Profa. Renata Mendonça procurará extrair alguma novidade na esfera dos metabólitos secundários.

MNRJ 20121 tem cara de quê? Stelletta beae? Já já saberemos. O material despachado de Natal deve chegar ao Rio por volta do dia 04-05/05. Apesar de estarmos com o microscópio na pousada, não houve tempo hábil para fazer preparações.


Quem procura, acha, não é? Sequer foi coletada, mas comprova-se que estas Mycale spp. estão sempre presentes no entremarés do nordeste. Ao menos entre a Bahia e o Ceará, sempre que buscamos o que há sob os matacões nos deparamos com espécimes finamente incrustantes, de coloração amarela ou vermelha, e com a superfície marcadamente reticulada, marcas registradas destas esponjas.

MNRJ 20122, uma Tethya sp descontraída (literalmente!). Na foto abaixo, nota-se nitidamente os brotos de sua reprodução assexuada, como já ilustrado neste blog (p.ex. http://esponjasbrasileiras.blogspot.com.br/2011/09/1a-expedicao-do-pnpd-porifera-1.html). Reparem que entre a camada mais externa, vermelha, e a mais interna, amarela, há uma camada delgada de coloração branca. Este é o córtex da esponja, aqui caracterizado com uma densa concentração de espículas silicosas em formato de estrelas, denominadas ásteres (mais abaixo). Notem também que a esponja perdeu sua descontração com o manuseio e seccionamento, e as placas da superfície que estavam tão nítidas acima, estão agora fusionadas.


Imagem obtida pelo Dr. Philippe Willenz do Instituto Real Belga de Ciências Naturais (Bruxelas), a partir de uma Tethya coletada no Chile.


Geodia sp. Será a boa e velha G. gibberosa Lamarck, 1815, espécie tipo do gênero? Essa é uma esponja de muitas caras. Vá saber. Outros espécimes identificados como G. gibberosa eram brancos. Veremos ... 

Outra esponja de muitas caras ... Haliclona caerulea, aqui com sua fantasia de Amphimedon viridis. Como tanto uma quanto a outra ocorrem neste tipo de ambiente, deve-se estar atento às sutilezas. 

Fim de mergulho, maré subindo, chuva apertando, vento idem. Aquela delícia de praia, não é mesmo? A chuva batia com tanta força que precisava-se usar a nadadeira para proteger o rosto das pancadas, como fazia Cristiana nesta foto.


Pôster produzido pela equipe do Projeto Ponta de Pirangi. A esponja ilustrada na 1a foto acima e à direita no pôster, uma Aplysina lacunosa, era o tipo de esponja que esperávamos ver se tivéssemos conseguido realizar os mergulhos SCUBA. Ficou para a próxima.

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