quarta-feira, 9 de abril de 2014

2a Expedição do PNPD - EXpedição POríferos do CE e RN (EXPO-CERN): Porto do Pecém

02 Abr 2014 - Esse foi um dia planejado há muito tempo! Sula havia feito sua monografia estudando a incrustação nos pilares do Porto do Pecém, e desde sempre faláva-nos das esponjas que aí se encontrava. Desta forma, sempre vimos esta como uma localidade obrigatória em uma expedição ao Ceará. Graças à amizade de Sula com o Prof. Marcelo Soares (UFC), tivemos excelente apoio para viabilizar nossos planos. Aliás, só viabilizados no último minuto, após um par de horas de discussões no local, por incrível que pareça. Em resumo: não é trivial trabalhar em um porto que lida com importação e exportação, pois todos, sem exceção, são vistos como contrabandistas em potencial. Mas, afora os percalços, e como se veráo abaixo, chuva e mais chuva, e mais chuva, o dia foi 100% plenamente proveitoso.

Entrada do Porto do Pecém, onde ficamos retidos algumas horas, enquanto o Prof. Marcelo Soares, muito gentilmente ajudáva-nos a desembaraçãr nossa papelada. Vale ressaltar que parte da confusão se deveu ao fat de que de última hora resolvemos acrescentar três químicos e um veículo à equipe que ingressaria no porto para as coletas, além de não termos preprado as guias de saída de material (somente as de entrada).

Como boa parte dos portos que conhecemos, este também se sustenta sobre um sem número (centenas ou milhares) de pilastras de concreto. Como de costume, estas estão recobertas de incrustação, com destaque para algas, esponjas, cnidários e tunicados. Porém, ao contrário de muitos, possivelmente a maioria dos portos, aqui se encontram águas claras o suficiente para uma boa amostragem por mergulho. E olhe que chovia há dias!

Ademais do porto própriamente dito, com seus pilotis, há também um quebramar artificial constituido pelo enrocamento que se vê nesta imagem. São 2 km em linha reta mar adentro (com uma janela costeira para permitir o trânsito da corrente de deriva litorânea), e mais não sei qual distância de enrocamento perpendicular, atualmente em expansão, conferindo aspecto de L ao conjunto. O que não falta é lugar para procurar material biológico. Nossa tentativa de amostrar este quebramar, realizda em um único ponto, provou-se infrutífera, pois não vimos uma esponja sequer até os 7-8 m de profundidade. Havia apenas alguns pequenos corais Siderastrea, e muito, muito sedimento sobre todas as superfícies. Talvez tenhamos escolhido mal o ponto. Em uma próxima vez procuraremos fazer o trabalho com o apoio de uma embarcação.

Eduardo conclui os preparativos para o mergulho que viria a realizar com Sula, observado pelos químicos Bruno e Chaguinha (de camisa escura), e o motorista que trouxeram para guiar seu carrão (F250).

Para Sula não tem tempo ruim! Também não tem capacete, não tem calçado, não tem ... Hoje ela seria dupla de Eduardo, agilizando o ensacamento das amostras coletadas e fotografadas, além de complementar as coletas de materiais para a bioprospecção.

Outro desafio descer estas escadas! Este era o único ponto de acesso que encontramos ao mar, o que definiu a área de nossa amostragem no porto.

Camille apoiando a descida de Eduardo, que havia determinado que os demais só baixariam após o retorno da 1a dupla (Eduardo e Sula), com um parecer acerca dass condições do mergulho. Afinal, tratava-se de uma situação bastante mais radical que a das piscininhas recifais que havíamos amostrado até aqui, e a equipe não prima pela experiência. Portanto, nada como um passo depois do outro. Nossos acidentes aqui e em outros locais não foram maiores que pequenos arranhões.

Eduardo e Sula prestes a submergir, passando os últimos detalhes acerca da dinâmica da coleta. Sula gosta de falar debaixo d'água, mas confesso que não entendo nada do que ela diz ...

A turma de terra não resistiu à tentação e se mandou para a água. André e Báslavi amostram a corda de amarração da balsa, observados/fotografados pelo Prof. Edilberto. Encontraram algumas esponjas calcárias.

Coincidentemente, a primeira esponja encontrada por Eduardo e Sula, MNRJ 17769, também foi uma Calcarea. Porém, curiosamente, depois dessa não vimos paticamente mais nenhuma. Somente umas poucas prováveis Sycettusa.

Crostas vermelhas (MNRJ 17855) são sempre bemvindas. Quase que uma marca registrada dos poríferos da Ordem Poecilosclerida, inúmeras espécies têm precisamente este mesmo aspecto. A imagem ilustra também a abundância de tunicados.

MNRJ 17856 deve ser uma Amphimedon. Foi amostrada para taxonomia, genética e bioprospecção. Era uma espécie bastante comum, mas que separamos em dois morfotipos.

Como a acuidade visual de Eduardo para perto já está seriamente comprometida, está cada vez mais difícil discernir os detalhes da superfície que distinguem as espécies umas das outras. Uma das espécies que buscávamos no porto era Monanchora aruscula, normalmente vermelha om canais esbranquiçados. Aqui, uma ascidia colonial foi confundida com esta esponja, e acabou sendo coletada por engano. Na hora da coleta, a consitência já denotava não se tratar de um porífero, mas como já se havia tomado toda a sequência de fotos, ela foi para o saco do mesmo jeito.

A água turva neste dia não permitia enxergar mais que uns poucosmetros de distância, de modo que somente aqueles peixes mais curiosos eram flagrados vez por outra. Aqui, um enxada que ficava indo e vindo, pois afinal, espongiólogos são sempre uma novidade!

Alguns cavalos-marinhos também estavam presentes no entorno das pilastras.

Um dia de coleta não se conclui sem uma longa triagem. Especialmente o material para bioprospecção é muito trabalhoso de processsar, pois deve estar o mais limpo possível no que se refere aos organismos associados. É comum que as espécies cresçam entremeadas umas às outras, o que não raro obrigada uma análise minuciosa do material coletado antes de sua fixação em etanol para a bioprospecção. Se fosse para taxonomia ficava tudo junto, e depois aproveitávamos os associados para enriquecer o texto de desccrição da espécie.

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Desculpe o lapso em responder. Acabada a expedição, o departamento de public outreach fechou as portas. Das duas uma: ou esse espécime já foi passado para quem de direito, que poderá lhe dizer se se trata de hastifera ou não; ou, fez-se lâmina do mesmo e deve estar identificado com a solene ID = Calcarea. Vou verificar.

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  2. Muito bom! Tenho quase certeza que este bichos não são Amphimedon erina, vale a pena investir!

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  3. Deve ser a compressa que te estavas referindo, não? Afinal, vermelhão desse jeito, não ia dar para ser erina. Pena que o debate não foi pra frente. Falha de nosso Depto de Public Outreach que perdeu o gás após a expedição. Essa foto da Amphimedon fez sucesso no Instagram, onde já está com quase 50 likes!!

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